Derrota na quarta, vitória no sábado. Expulsão do PSDB pelo PCO não atrasou, mas, sim, acelerou o ‘Fora, Bolsonaro!’

A soma de forças antagônicas não trará resultados. A esquerda tem a chance de chutar toda a extrema-direita. O caminho é pintar a rua de vermelho para evitar repetir 2013.

Na última quarta-feira, 30 de junho, os líderes dos partidos de esquerda no parlamento apresentaram o chamado superpedido de impeachment. Juntaram-se ao processo, figuras detestáveis da extrema-direita, como Kim Kataguiri, Joice Hasselmann e Alexandre Frota. Durante a semana, o tapa na cara da militância continuou com a autorização do campo progressista para a participação do PSDB nos atos pedindo a queda do atual governo.

Porém, no sábado, 3 de julho, a militância do PCO corrigiu o erro na grande manifestação ocorrida na Av. Paulista, expulsando os tucanos do local.

Para boa parte daqueles favoráveis a derrubada do Bolsonaro, esta foi uma atitude equivocada pois, segundo eles, subtrai apoio e introduz um sectarismo ao movimento. Grande engano.

Chamar a direita não ajuda, mas atrapalha a derrubada de Bolsonaro.

Primeiro que as personalidades e partidos de direita convidados já se comprometeram com seus respectivos públicos votarem favoráveis a retirada do atual presidente do poder. Ou seja, não acrescentam em mais nada.

Segundo, porque os parlamentares que faltam ser conquistados só vão topar seguir com o processo quando a burguesia sentir que está perdendo controle do regime político. E o que significa isso?

Perda de controle político, no momento, ainda não quer dizer uma revolta generalizada, como muitos podem ironizar – apesar da brutal crise tornar esse cenário não tão distante. É simplesmente a possibilidade do ‘Fora, Bolsonaro!’ se deslocar para uma rejeição das políticas neoliberais de fome do Guedes e policialescas de extermínio, originalmente do Sergio Moro.

A prova cabal disso foi a repercussão que a grande mídia, como as organizações Globo e o Estadão, deram aos protestos de 29 de maio, com uma cobertura pequena, exibindo imagens dos atos bem no início, fora do período de maior concentração, e destacando as raríssimas vezes em que houve relaxamento das medidas de prevenção a pandemia.

A falta de um tratamento que fizesse jus as manifestações por parte da imprensa se deu porque elas foram muito grandes – dado o contexto sanitário do momento, com uma simbologia de esquerda marcante e presença de destaque dos grupos mais radicais. Aquilo significava que a indignação com o governo federal já estava caminhando para um lugar que a elite brasileira não queria.

Sendo assim, se os grandes capitalista, do Brasil e do exterior, perceberem que a repulsa popular é com tudo, não só com a questão da saúde, mas também com a da econômica e da segurança pública, eles ordenarão que o congresso e o judiciário tirem Bolsonaro do poder.

Mas, se a burguesia sentir que será fácil cooptar a esquerda para a sua agenda, ou seja, que a crítica ao bolsonarismo se limite ao comportamento genocida e grotesco do chefe do executivo, ela o cozinhará no poder, já que seu projeto de apliação da acumulação e de sua hegemonia não estará em risco e pelo fato do impeachment trazer uma turbulência junto aos militares, evangélicos e outros grupos de extrema-direita.

Juntar-se com MBL, Joice, Frota e PSDB é dar um alívio para a classe dominante, pois mostra que as grandes manifestações podem não produzir um questionamento das pautas direitistas, além de abrirem a possibilidade para um candidato da chamada 3ª via em 2022, alguém que não conciliará, mas continuará entregando tudo para os patrões.

Essa história de que a esquerda precisa abraçar todo mundo para somar votos é uma bobagem tremenda. A função não deve ser catar congressistas pelo impeachment, e sim pressionar para que os burgueses sintam medo.

Já em relação ao apoio popular daqueles rejeitam as esquerdas tanto quanto Bolsonaro, fiquem tranquilos, se forem acuados, os grandes empresários vão ordenar um massacre midiático contra a escória que habita o Palácio do Planalto.

Mesmo que trouxesse resultados, a estratégia de aliança com os golpistas e lavajatistas neofascistas produziria efeitos extremamente colaterais.

Quando se fala em democracia, não se pode esquecer do golpe de 2016. Dilma saiu da presidência não só pelo inexistente crime das pedaladas fiscais, mas, sobretudo, por um processo judicial fraudulento apoiado pelos grandes veículos de comunicação.

Todo o golpe tinha alguns objetivos claros, o principal era reduzir o custo da mão-de-obra no país, em outras palavras, tirar valor do trabalho. Por isso, o argumento de que as divergências estão em segundo plano e que o objeto é salvar o processo democrático é falso, já que a vontade popular manifestada nas eleições foi justamente ferido para atender alguns interesses.

Para isso ocorrer, houve o patrocínio a grupos da pior extrema-direita. Não há como esquecer do Aécio (PSDB-MG), em novembro de 2014, logo após o pleito presidencial, recebendo Lobão e Marcelo Reis do Revoltados Online, sujeito que em maio daquele mesmo ano estava celebrando o aniversário do golpe de 64. Também é impossível não lembrar da participação do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) nos acampamentos do MBL, ou a ida do tucanato no carro de som do mesmo movimento.

Por falar em MBL, que foi representado por Kim Kataguiri na cerimônia do super impeachment, é preciso rememorar que eles apoiaram todas, eu disse TODAS as pautas do guru bolsonarista, Olavo de Carvalho.

Defendeu o Escola Sem Partido, o combate ao suposto marxismo cultural, a censura do QueerMuseum com o argumento da arte degenerada – algo típico dos nazistas. Isso sem contar a Fake News da Marielle, as invasões as ocupações dos estudantes em greve, o apoio a ações policiais violentas, a celebração das ilegalidades da Lava-Jato , mesmo depois de desmoralizadas, os ataques agressivos aos movimentos negro, LGBTQIA+, das mulheres, etc. É tanta coisa que precisaria de um texto enorme e muita memória para recordar todo horror que o Movimento Brasil Livre representou.

Joice e Frota, apesar de hoje serem irrelevantes – o que torna participação de ambos no documento ainda mais inexplicável, também ajudaram a criar estes absurdos. A jornalista paranaense, por sua vez, quando recebeu uma acusação de plágio, denunciou a CUT e o sindicato da categoria de complô. Já na sua campanha para deputada, apareceu em vídeo batendo numa pessoa fantasiada de Maria do Rosário.

Voltando aos tucanos, Doria, que agora elogia o fato de seu correligionário governador no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (que apoiou o homofóbico Bolsonaro), ter se assumido homossexual, já se utilizou do discurso ultraconservador contra os gays. Também na sua passagem pela prefeitura paulistana, partia para cima da esquerda, generalizando, como se todos fossem corruptos, e mandando seus adversários para Curitiba, numa referência clara a Lava-Jato. A hidrofobia do governador paulista foi tanta que chegou ao ponto de usar o slogan BolsoDoria na campanha estadual de 2018.

Relembrar tudo isso – o que não dá 1% do que fizeram, não é só um revanchismo barato, mas sim tentar evitar que o campo progressista dê um selo de anuência para todos aqueles que contribuíram para a propagação do neofascismo que colocou o bolsonarismo no poder. Não se pode aceitar que eles recebam um perdão por toda barbárie que produziram, ou dar a eles o carimbo de civilizados.

E ainda é importante ressaltar que o PSDB, por exemplo, vota quase 90% com o governo, Kim Kataguiri sempre apoia propostas grotescas, como a demarcação das terras indígenas, por exemplo. Em outras palavras, a direita faz uma oposição falsa, e, nesse aspecto, excluí-los da crítica também representa se deixar alienar com a figura monstruosa do Presidente e assumir que ele serve como elemento de distração para a população que o rejeita, o que contribui ainda mais para a elite mantê-lo governando.

Além de tudo isso, não relevar a verdadeira face dessa gente abre a chance de uma possível cooptação da revolta popular, o que resultaria numa sequencia não só à pauta econômica e de segurança pública, como também da chamada agenda conservadora de costumes. Isso sem contar no chute que os progressistas levarão dos mesmo, com a volta do clima de repúdio a tudo aquilo que se parecer de esquerda.

Não se pode repetir 2013

Quem tem junho de 2013 fresco na memória, sabe que aquele foi um dos maiores “tiros no pé” da história de um movimento político no Brasil, fazendo emergir um sentimento antipetista e hostil a esquerda, inclusive com o surgimento de alguns dos grupos citados acima.

Mas aquele erro estratégico tem explicações, e passam pela negativa dos líderes da época em marcar território nos protestos.

Os primeiros atos do Passe Livre ocorreram dentro do esperado, com a polícia batendo, os manifestantes revidando e a mídia apoiando os agentes da lei.

Já no protesto do dia 13/06/2013, uma quinta-feira, quando a repórter da folha levou um tiro de bala de borracha no olhos, notou-se um grande apoio da população àquela movimentação, algo visto sobretudo no Facebook. Houve até o Datena repetindo uma pesquisa duas vezes para saber se seu público rejeitava tais ações. O último título era “Você apoia protesto com baderna?” Contra a vontade do apresentador, a maioria respondeu que sim.

A partir daí, os jornais e emissoras de rádio fizeram um giro de 360° e deram apoio às manifestações, produzindo, inclusive, as patéticas cenas do Arnaldo Jabor mudando radicalmente de opinião no Jornal da Globo.

Porém, houve toda uma tentativa de direcionamento da pauta. No dia 16, domingo, véspera do ato que prometia ser gigantesco – como foi – o Fantástico exibiu uma reportagem exaltando o Passe Livre, porém, exibindo em tom acusatório a participação dos partidos de esquerda.

Ocorreu ainda uma série de reportagens televisivas exaltando o patriotismo, as pautas do Ministério Público e as denúncias de corrupção nos estádios da Copa do Mundo, com foco, é claro, na participação do PT. Em suma,foi feita toda uma operação para capturar a pauta que era progressista, redução da passagem do transporte público, para uma pauta antipetista, nacionalista, punitivista e antipolítica.

Na segunda-feira, 17, a ação da mídia teve efeito, o protesto contou com alas que se identificavam como “Movimento dos Sem Partido”, grupos de extrema-direita e uma hostilidade absurda com as bandeiras vermelhas.

Já o blogueiro que vos fala, viu com seus próprios olhos uma das lideranças do Movimento Passe Livre (MPL) rejeitando o protagonismo dos partidos. Disse ele: “Cuidado para o PSTU não tomar a frente da passeata”.

No fim das contas, quem caiu no ostracismo foi o MPL, e quem ganhou protagonismo foi o MBL. E o Olavo de Carvalho acabou vendendo muitos livros.

Pode acreditar, a chamada nova direita brasileira demorou e deu muito trabalho para ser construída. Destruir não só o bolsonarismo, mas também os grupelhos que fingem se opor sugere tirar e desestruturar algo que levará tempo para ser reerguido novamente.

Pintar as ruas de vermelho contra Bolsonaro

A história é estudada para não se repetir os erros. Dividir rua com a direita é abrir margem para o protesto ser cooptado.

Depois de expulsar o PSDB e tal fato ganhar publicidade, houve gente que rejeitou, mas a maioria apoiou a atitude do PCO. Só o fato de existir o debate já é um ganho, mas a exaltação ao Partido da Causa Operária só mostra que o povo mobilizado já tem maturidade política para entender certas coisas.

Além disso, vestir verde-amarelo significa apoiar uma causa genérica em torno de um suposto bem-comum – quase sempre apontado pela imprensa burguesa. Já o vermelho mostra as manifestações tem lado, o que indica um caminho oposto do que a classe dominante quer.

E se isso lhe pareceu um tanto radical, pode ter certeza, a estratégia tem que ser a de assustar. Parabéns ao PCO e viva o vermelho.

Ciro Gomes foi um erro, e se mobilizar em torno dele é se organizar sob o comando burguês

Parte do eleitorado de esquerda, inclusive o blogueiro que vos fala, decidiu voto em Ciro. Foi um erro, e continuar em torno dele significará uma capitulação da esquerda pela burguesia.

Desde 2017, o Raiz da Questão está fora do ar por problemas técnicos e infelizmente o histórico do blog se apagou. Mas graças a blogueiros que replicaram, alguns dos textos continuam no ar. Ok, isso pode ser irrelevante pra você, pois, no momento, a página tem pouco mais de 3 mil seguidores no Facebook. Entretanto, a esses poucos seguidores – que eu espero que, em breve, sejam muitos mais – é preciso dar uma satisfação.

Porém, reativar o blog sem relembrar o que ocorreu seria uma falha. A história não acontece assim do nada e o que foi escrito se tornou público e algumas vezes foi reproduzido por outros sites. Por isso é importante rememorar, mesmo que em partes, os acertos e erros aqui cometidos.

 Com certeza, o gol de placa do blog foi o de ter antecipado a ascensão do partido NOVO e dos ditos liberais, que na verdade era um bando de reacionários. O texto foi publicado pelo site Viomundo do grande Luiz Carlos Azenha. A época, enquanto toda esquerda ainda se preocupava com o PSDB, forças como o MBL, seguidores do Olavo de Carvalho e algumas figuras que hoje são protagonistas começavam a se destacar. Hoje, os tucanos quase desapareceram, até mesmo seu partido é dominado por um político alinhado com a extrema-direita.

Relendo o texto de 2015 em 2019, a previsão de que as pautas de comportamento e segurança pública fariam sucesso eleitoral se realizou. Já a premissa que as pautas econômicas de direitos trabalhistas encontrariam pouca popularidade também se mostrou verdadeira, porém, o capital político presidente Jair Bolsonaro no início do ano emprestou uma certa aprovação popular para a reforma da previdência.

Todavia, a crise política, iniciada em junho de 2013 e que se estende até hoje, foi de gigantesco aprendizado para todos. Nesse contexto, o blog também errou, e errou muito. E é preciso reconhecer para recomeçar. Afinal, já dizia o poeta, quem erra na análise, erra na ação.

Com certeza, a maior lição que a esquerda deveria ter aprendido – e não aprendeu – foi que a análise idealista, a baseada no conjunto de ideias, é equivocada de saída. O blog já sabia disso, entretanto, em alguns textos, caiu nessa armadilha. Quando os fatos são colocados sob a luz do materialismo histórico dialético e da luta de classes, as coisas ficam mais claras.

Mesmo sem cair na armadilha do idealismo e com o blog já fora do ar, o maior erro do blogueiro que vos fala foi o de apoiar a candidatura do Ciro Gomes. E sobre esse equívoco, como diriam ministros do STF, é preciso se debruçar.

Antes de tudo, é necessário constatar que em nenhum momento se deu crédito ao seu falso discurso progressista, aos bordões do tipo “tatu no toco”, as propostas de aliviar o endividamento do brasileiro e, principalmente, nem a de poupar os trabalhadores das reformas trabalhista e previdenciária. A interpretação do cenário naquele momento foi baseada, sim, na luta de classes. O entendimento foi de que a esquerda não teria força para ganhar a eleição no 2° turno, visto isso, a prioridade seria evitar um avanço mais forte do neoliberalismo e do fascismo.

Ciro Gomes sempre foi um político da burguesia. Durante o transcorrer do golpe contra a presidenta Dilma, ele foi presidente da CSN, do empresário Benjamin Steinbruch, um dos mais direitistas da FIESP e que sempre atuou nos bastidores pra retirar direitos dos trabalhadores. O industrial chegou, inclusive, a propor que o trabalhador almoçasse com uma mão e operasse a máquina com outra. Durante a gestão do pedetista na CSN, não era raro vê-lo palestrando em pleno horário comercial, ou seja, se faz política durante o expediente, pode ser que não era bem pela gestão da empresa que ele estava ali.

Entretanto, o político cearense não é de qualquer burguesia, é especificamente da burguesia produtiva e que tem interesses distintos da burguesia financeira e internacional. Toda a elite concorda que o custo do trabalho deve ser o menor possível, só que os bancos querem o crédito mais voltado para a especulação e o imperialismo quer o Brasil cada vez mais um país agroexportador para poder comprar suas comodities mais baratas. Sendo assim, esses dois setores burgueses sabotam qualquer projeto de desenvolvimento nacional. Já industriais e ruralistas desejam empréstimos com juros mais baixos, infraestrutura eficiente, produção científica a todo vapor e, se possível, um mercado interno pujante.

Para os trabalhadores, o melhor seria a combinação de desenvolvimento nacional sem retirada de direitos. Porém, quando se compara os interesses dos banqueiros e imperialistas contra industriais e ruralistas, para a classe trabalhadora, o melhor seria a segunda opção. A partir dessa leitura que este blogueiro que vos fala recomendou a seu humilde número de seguidores o voto em Ciro Gomes.

Havia vários erros nessa interpretação. A primeira foi desprezar o PT como resultado das organizações da classe trabalhador. Muitos questionariam, “ah, mas e o Lula? Os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro com ele, as empreiteiras estiveram muito próximas do presidente”. Sim, isso é a mais absoluta verdade.

Porém, é preciso entender: o ex-presidente é um representante dos trabalhadores que conciliou com a burguesia. E é esse laço com o proletariado que garantiu algumas ‘migalhas’, como o reajuste do salário mínimo acima da inflação, os programas sociais, o crédito para agricultura familiar, uma posição de alinhamento alternativo ao imperialismo no cenário internacional, etc, etc, etc. Além disso, a base petista nos maiores sindicato, a CUT, e movimento camponês, o MST, da América Latina e nos movimentos sociais, garantia o acesso da classe trabalhadora a suas pautas no governo federal. Se elas eram cumpridas é outro assunto, mas o neoliberalismo nos governos petistas foi bem menor do que seria se sua ampla base social não tivesse este vínculo.

Ciro, sendo político burguês com discurso de esquerda, caso fosse presidente, não poderia garantir estas conquistas, pois estaria amarrado a um empresariado, dando-lhes mais impulso na correlação de forças. Pode até ser que ele conseguisse romper com o desastre neoliberal, já que é um representante do capital produtivo, e não especulativo. Mas é importante ressaltar que mesmo entre os setores, a burguesia tem interesses e estratégias difusas, logo, não se poderia ter certeza que isso resultaria em uma política mais desenvolvimentista.

O segundo aspecto do erro é que o processo eleitoral é uma ótima oportunidade para radicalizar a luta política. Olhando para trás, a decisão mais correta do PT seria manter a candidatura do Lula até o final, mesmo seu registro sendo anulado, o que levaria a uma vitória do Bolsonaro já no primeiro turno. Com isso, os votos no líder petista seriam impugnados, mas não ocultados, e é quase certo que em maior quantidade que obteve Haddad. A partir desse momento, seria possível especular qual seria sua votação caso estivesse solto  e assim escancarar o golpe para toda sociedade.

Já o voto no candidato do PDT é despolitizado, pois aceita a derrota da organização da classe trabalhadora e seu partido, ou seja, neutraliza qualquer polarização e radicalização. Em outras palavras, é como dizer que a prisão do Lula e o impeachment da Dilma são coisas do passado, passando a mensagem que esses eventos são coisas normais da democracia, quando não são. São fraudes que a burguesia nos impôs e que precisam ser desnudadas.

O terceiro aspecto do erro é o fato do desejo de Ciro em ser presidente não ter compromisso com os movimentos proletários. Tanto que, após a derrota na eleição, fruto, em partes, das manobras políticas do PT, ele fez o jogo da direita, chamou petistas de quadrilheiros e difundiu a frase criada por seu irmão: “o Lula tá preso, babaca”. Não é um jogo só direitista, mas também burguês, pois, por mais que houvesse corrupção aqui ou ali, o discurso pode legitimar uma perseguição jurídica que sofreu o principal partido de esquerda do país.

Esquecem-se aqueles que apoiaram Ciro que a superação do petismo no campo progressista depende fundamentalmente da migração dessas organizações dos trabalhadores para uma nova força política, caso contrário, elas se desmantelariam, debilitariam a luta e propiciariam um avanço brutal da burguesia. Ou seja, enquanto a classe trabalhadora organizada não tiver um novo partido, combater o PT é propiciar um avanço da direita.

Em cima disso, há o quarto aspecto do erro, o de rachar o eleitorado da esquerda, inclusive no congresso nacional. A desidratação petista no parlamento permitiu ao pedetismo eleger representantes com altíssima subordinação aos interesses das elite. O exemplo claro disso é o da deputada Tábata Amaral, que é ligada ao movimento Renova BR do empresário Luciano Huck e que votou favorável à reforma da previdência.

Ciro Gomes foi um erro da esquerda. Não significa que na próxima eleição devemos votar no PT, mas que se mobilizar em torno dele é se capitular frente a burguesia. Tudo isso dito, por essas e outras, sim, o Raiz da Questão reconhece o seus equívocos, mesmo sendo lido por ainda poucos . Nessa, digamos assim, reinauguração, o compromisso será o da luta política em defesa dos trabalhadores sob a perspectiva da luta de classes.